Basta ocorrer uma tragédia, para que, de todos os lados, surjam pessoas querendo aproveitar o momento. Falei semana passada do Deputado Estadual, que acusou o juiz da Comarca sem provas e foi desmentido pelo serviço de inteligência da Brigada Militar. Conseguiu aparecer no meio de todo o furacão. Sempre se lucra algum votinho... O importante é aparecer. Afinal, grande parte do povo vota em pessoas que lembram alguma coisa, mesmo que não se lembre que coisa. O importante é aparecer, doa a quem doer...
Mas nesta semana outra novidade. Desde a morte do menino Bernardo, surgiram várias páginas na rede social facebook, comentando o caso. Passei a seguir algumas, como forma de me manter informado. Uma delas é a página DESAPARECIDO- Bernardo Boldrini (corrente do bem) que já conta com mais de 95 mil seguidores. Qualquer postagem que a página faça, é objeto de muitos comentários e curtidas. O sentimento de dor do povo responde imediatamente a qualquer foto ou nova informação divulgada por alguém que está do outro lado do computador...
Curiosamente, na semana passada o autor da página escreveu que esteve em frente a casa de Bernardo e viu que os cartazes estavam danificados pela ação do tempo. Que ele gostaria de fazer cartazes novos, faixas e camisetas, mas que era uma pessoa humilde. Que a 30 dias estava envolvido com a causa "Bernardo", mas que também tinha suas necessidades e que não estava conseguindo sobreviver. Disse que tinha interesse em criar um site para cadastrar as crianças desaparecidas de todo o Brasil e que pessoalmente iria a cada cidade colher as informações e coloca-las na rede social. Pedia uma colaboração espontânea e indicava uma conta do Banco do Brasil com o nome de uma mulher MAGDA M. S.
Centenas de comentários apareceram criticando. Eu fui um deles. Resolvi, então, cutucar a onça. Postei na minha página uma foto do que ele tinha escrito. Várias pessoas então curtiram e compartilharam até que, de repente recebi um convite de amizade de nome Magnos e uma mensagem fechada, particular nestes termos:
"Marcos, sou Magnos o responsável pela pagina Desaparecido. Peço educadamente que exclua sua publicação, pois a conta citada é da minha irmã e ela não tem nada a ver com a situação. Ok"
Resolvi dialogar com o jovem, e a história, resumida, é essa:
-Entendo que sua irmã está envolvida. Pois o nome dela apareceu na sua página.
-Não ela não tem nada com isso.
-Prove.
-Como vou provar?
-Vou te mostrar o raciocínio da sua página, nestes últimos 30 dias. Por exemplo: Você postou que o juiz e a promotora eram culpados no caso Bernardo. Centenas de pessoas comentaram apoiando sua postagem. Afinal, uma página sentimental do Bernardo postou isso.
-Eu estava de cabeça quente
-Sim, e então mobilizou a opinião pública contra pessoas que estão trabalhando honestamente em milhares de processos e que haviam feito tudo que a lei exigia. Para você, todo aquele que cruzou no caminho do menino é culpado. Então te digo: Na sua página aparece a nome da sua irmã, com uma conta bancária. Você postou. Logo, me parece que os dois estão envolvidos nisso (Pedindo dinheiro). Um raciocínio desenvolvido por você mesmo...
-Você não vai apagar a postagem ?
-Não, para mim você dois estão envolvidos no pedido de dinheiro
-É injusto...
O diálogo serve para mostrar claramente que muitas vezes as pessoas sentem necessidade de achar culpados, atirando para todos os lados, sem ao menos pesquisar qual a verdade dos fatos. Simplesmente culpar toda e qualquer pessoa que estava próxima a um fato, pelo seu acontecimento, é uma ação primitiva, instintiva, que busca a vingança sob o argumento de que pretende "fazer Justiça". Antes de acusar, temos que conhecer os fatos...
Das minhas leituras da madrugada:
"A injustiça que se faz a um, é a ameaça que se faz a todos'' - Montesquieu