Linchamento Virtual...
Virou moda! Surge um comentário nas redes sociais sobre alguém e, sem que ninguém apure se é verdade ou não, o povo começa a criticar. As pessoas não medem as palavras. Enxergam uma imagem, e começam a falar. O importante é falar mal, sempre!
A internet tem destas coisas escabrosas. Aparece uma notícia, e ela se torna uma verdade. Não se sabe quem escreveu, quem montou, não se sabe nada. Mas está ali. Então, o negócio é bater! Divulgar! Criar um corrente contra aquela imagem. Páginas de redes sociais e alguns sites tornaram-se um território sem lei, onde tudo pode.
A poucos dias divulgaram a imagem de uma mulher em uma rede social, dizendo que ela fazia rituais de magia negra com crianças sequestradas. O povo identificou uma mulher do bairro como se fosse a bandida e resolveu linchar. Mataram a mulher. Uma multidão. O fato ocorreu em Guarujá, São Paulo. Depois se descobriu que a mulher espancada não era a mesma mulher do vídeo dos rituais. Mataram a mulher errada...
A liberdade que se tem no mundo virtual é perigosa. Ali vale tudo, sempre sob o véu do anonimato. E em tudo utiliza-se sempre a palavra JUSTIÇA. Justiça essa que deve ser feita através de um linchamento virtual (quando todos começam a comentar sem nenhum pudor) ou um linchamento físico, quando as coisas tomam proporções exageradas e fogem ao controle de todos...
Casos emblemáticos são sempre a bola da vez. Inicia-se divulgando na rede que todos somos do bem e que queremos Justiça. Depois se começa a acusar, e depois vem a retaliação. Daí se perde o foco na tragédia e se quer ibope através das notícias divulgadas. Quanto mais comentários, curtidas, compartilhamentos, melhor. O importante é um maior ibope para a página que, normalmente, é administrada por um anônimo...
O caso Bernardo é um exemplo real disso. Ninguém escapa dos linchadores virtuais. As páginas anônimas que tratam do assunto colocam uma foto qualquer e fazem uma afirmação. Todos acreditam e aproveitam para criticar. Manipula-se com muita facilidade a opinião pública. Basta escolher o alvo certo, ou seja, aquele que dá mais ibope.
Por exemplo, escolher o juiz do processo, ou a promotora. Ibope certo. Falar mal do advogado famoso que está atuando na causa. Ibope certo. O importante é bater. Divulgar qualquer informação, mesmo que distorcida e aguardar que o povo se manifeste. Afinal, se a informação não for verdadeira, pouco acontecerá, pois as páginas que divulgam são anônimas.
E o povo? Porque entra na onda?
Porque o povo adora uma tragédia. Adora enfrentar o poder. Adora achar culpados e violentá-los moralmente. O povo adora o linchamento que, no passado era físico e hoje é virtual. Achar um culpado é livrar-se das suas próprias culpas, é libertar-se dos seus erros e apontar nos outros erros mais graves. Acusar sem provas é o delírio de quem carrega uma culpa particular. É o êxtase. É descarregar toda sua dor em alguém. É libertar-se de uma culpa, pois o outro fez algo pior. Acusar, criticar ou linchar no mundo virtual é a grande atração do povo no mundo moderno...
Afinal, o que dá mais ibope em um tele-jornal ? A notícia de uma tragédia ou de alguma ação para o Bem?
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