TRÊS DE MAIO E SUA HISTÓRIA - A PRAÇA DA BANDEIRA

TRÊS DE MAIO E SUA HISTÓRIA - A PRAÇA DA BANDEIRA

A PRAÇA DA BANDEIRA

Nos planos iniciais do povoamento de Três de Maio, quando as ruas e avenidas foram planejadas, estabeleceu-se que a praça central seria implantada sobre dois lotes de terra na área mais central da Vila, onde hoje se encontra a praça da igreja matriz católica, que inicialmente pertenciam ao Sr. Casemiro Korchewicz, pioneiro que havia se estabelecido com um bolicho no povoado no início das medições dos lotes, e desde o princípio, Korchewicz já passou a ser sabedor de que os referidos lotes estavam declarados como sendo de interesse público, e portanto, não poderia vendê-los ou repassá-los a ninguém. 
Porém, quando em 1928, o padre Vicente Testani chegou à Vila, este percebeu a necessidade da construção de uma igreja maior no local onde até então estava estabelecida a capela de madeira dos católicos, num lote também doado por Casemiro Korchewicz e lindeiro aos dois lotes que futuramente se tornariam uma praça. 
Mas como haviam nestes lotes alguns canteiros com plantas que já vinham sendo cuidados pela igreja, Testani solicitou a Korchewicz a doação também destes, para a ereção da nova igreja, e sendo Casemiro Kochewicz um homem bastante religioso, logo concordou em formalizar mais esta doação, dando início ali a um longo embate entre a Diocese de Uruguaiana (Diocese a qual a paróquia de Três de Maio pertencia) e a Intendência de Santo Ângelo, responsável pela administração política de Três de Maio à época. 
Mas por fim, em 1933, após muito debate acerca destes terrenos, deu-se início a construção da igreja sobre os lotes da praça, e desta forma, alguns anos depois, foi escolhido um novo local para a implantação da praça do povoado, em terreno mais afastado, porém, agora mais central.  Já sob orientação do então município sede Santa Rosa (emancipada de Santo Ângelo em 01/07/1931), determinou-se, em 1938, que fosse criada a primeira praça de Três de Maio, num dos terrenos da Avenida Uruguai, pertencente ao funileiro Emílio Henrique Esch. 
Assim, no dia 31 de janeiro de 1939, o então prefeito de Santa Rosa, Capitão Pautilho Palhares, adquiriu pelo valor de Cr$ 16:000,000,00 (dezesseis contos de réis), uma área de terra com cinco lotes encravada na área rural número 112, com 5.400 m², “confrontando ao norte com uma rua ainda sem nome (atual Travessa Praça da Bandeira); ao Sul com terras de Valdemar Kath, a Leste com a Avenida Uruguai, e a Oeste, com a Rua Bonfante (atual Rua Padre Cacique)”, terrenos estes que, anteriormente, Esch havia adquirido de Ernesto Müllensschläeder. 
Feitos os trâmites legais, o terreno passou a ser constituído de canteiros de gramas com quatro entradas de chão batido que levavam ao centro, onde foram instalados dois mastros para as bandeiras nacional e do Estado (talvez por isso o nome de “Praça da Bandeira”), e ao lado destes, dois espaços em forma de meia lua para uso dos populares. Logo, o local passou a ser frequentado por diversas pessoas, que se reuniam para conversar, andar de bicicleta, assistir a desfiles cívicos, apresentações escolares, e claro, namorar. 
Em 1957, após a emancipação de Três de Maio (15/12/1954), e com a vinda da CEEE para o município, deu-se início a um longo embate judicial entre a prefeitura e o então concessionário da rede elétrica, Ricardo Tesche, sobre o valor que a prefeitura precisaria lhe restituir pelo que ele, como concessionário, havia investido no fornecimento de energia elétrica para os moradores em anos anteriores. 
Por fim, oficializou-se, por determinação judicial, o pagamento de Cr$ 72.550,00, como valor de desapropriação, o equivalente a seu valor histórico (valor de custo), importância bastante abaixo daquela inicialmente oferecida pela administração municipal, no valor de Cr$ 400.000,00, valor este que havia sido recusado por Ricardo Tesche por considerá-lo um valor muito abaixo daquele que ele havia investido em sua rede em anos anteriores. 
E assim, por não ter precisado gastar integralmente o valor inicialmente proposto na indenização a Tesche, resolveu o prefeito Walter Ullmann aplicá-lo em melhoramentos da iluminação pública, substituindo as lâmpadas antigas, e logo, mais de duzentas e setenta lâmpadas fluorescentes foram instaladas nas ruas da cidade e no local onde se pretendia construir a Praça da Bandeira, a qual deixou de ser um lugar escuro, transformando-se num recanto mais aprazível para a comunidade, que, por conseguinte, começou a questionar a administração municipal sobre quando se começaria a construção de uma praça com melhor infraestrutura naquele local. 
Então, em julho de 1959, último semestre da primeira administração da recém emancipada Três de Maio, e após diversas outras obras de infraestrutura mais urgentes já terem sido implementadas, Walter Ullmann deu início a tão esperada obra, começando pela limpeza do terreno e a elaboração de canteiros com cordões caiados e bancos para as pessoas sentarem-se em momentos de lazer. Foram também plantadas gramíneas e arbustos de todos os gêneros. Nos canteiros foram colocados camélias, azaleias, jasmins, palmeiras, cravos, roseiras, ciprestes, pirâmides e árvores de sombra já em pleno crescimento, que haviam sido plantadas em vasos poucos meses antes. 
Walter Ullmann achava que em uma praça deveria constar obrigatoriamente um espaço destinado às crianças, que, segundo ele, mesmo tacitamente, também tinham o direito de reclamar um espaço para si junto ao poder público, e como naqueles anos iniciais o município arrecadava uma taxa escolar sem que existisse na cidade nenhum professor pago pela prefeitura, Ullmann decidiu utilizar os recursos provenientes desta taxa para construir o parque infantil, pois achava que investir em um local apropriado para a diversão das crianças ia de encontro também com os interesses pedagógicos. 
Foram instalados no local balanços, cavalinhos, escorregadores, roda de cavalinhos, gonga giratória, caixa de areia e outros aparelhos, passando o local a receber crianças de todos os recantos da cidade, que passavam ali as melhores horas de suas infâncias e juventudes. Foi construído também um prédio com instalações sanitárias, com mictórios, WC e água corrente, compartimentos higiênicos e modelares, distintos para meninos e meninas, homens e mulheres. Por fim, foi construída a quadra esportiva em cimento armado, revestida com tinta encorpada que a tornava macia e de conservação permanente, medindo 36 x 25 metros e circundada com tela de arame suportada em canos galvanizados robustos, com a altura de 3,5 metros, sendo, ao lado sul, construídas as arquibancadas. Os suportes dos cestos usados na pratica do basquete, montados em blocos de cimento no fundo da tela, giravam sobre esferas de rolamento podendo ser afastados, desimpedindo assim a quadra para possibilitar jogos de tênis. 
De ambos os lados, sobre o meio da pista, foram feitos dois furos em canos galvanizados onde podiam ser colocados ou removidos os suportes da rede para jogos de tênis ou vôlei. Para estender tanto uma como outra rede, foram empregadas roldanas acima do suporte, sincronizadas com outra roldana, colocada mais afastada, na beira da quadra, utilizando-se, para se estender as redes, uma catraca. Para facilitar a limpeza e escoamento da água, a quadra foi construída com uma leve inclinação para os cantos. 
No dia da cerimônia de inauguração da Praça da Bandeira, em 26 de dezembro de 1959, estiveram presentes o prefeito de Santa Rosa, Carlos Dernardin, e seu vice, Dr. Ney Goulart, além de esportistas da União da Mocidade Três-maiense e do Atlas Atlético Clube, de Santo Ângelo, que vieram com uma caravana de mais de 60 atletas. Também um grande público veio prestigiar os jogos de inauguração, e uma multidão se amontoava de todos os lados da quadra, principalmente do lado da rua, onde estavam postados caminhões com as caçambas abertas. 
Naqueles primeiros anos, a Praça da Bandeira tornou-se um dos lugares mais frequentados da cidade, para onde todos iam, sempre sob os olhares atentos do senhor Gumercindo Rodrigues Pereira, zelador que trabalhou na praça por 30 anos.
Com o passar do tempo, a quadra de esportes chegou a ser revestida com areia, mas devido a reclamações da vizinhança voltou a ser como antes. Já a parte arborizada foi sofrendo diversas alterações e os três mastros de bandeiras, juntamente com a pira do fogo simbólico, foram realocados mais próximos da Avenida, onde também surgiu um local para o ponto de táxi, que permanece até os dias de hoje. 
Em 16 de abril de 2009, através da Lei n° 2.484, a Praça da Bandeira recebeu oficialmente  o nome de “Praça Henrique Becker Filho”, talvez como uma forma de mostrar que praças são os locais mais democráticos em uma cidade, pois assim como a pessoa que lhe emprestou seu nome, abraçam e recebem a todos, indistintamente. Aproveitem! 

Fontes: Livro do Tombo n°1 da matriz católica, pesquisas de Carolina Zimmermann, relatórios da primeira administração de Walter Ullmann e escrituras do arquivo do patrimônio da prefeitura municipal. 
Revisão: Dr. Professor Leomar Tesche.

 

 

A Praça da Bandeira passou por diversas transformações ao longo de sua história

 

Julho de 1959. Início das obras de infraestrutura da Praça da Bandeira durante a administração do prefeito Walter Ullmann. Na imagem, carro entrando na atual Rua Alcy Ramos Tomasi

 

 

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